A educação dos surdos é um tema polêmico que gera muitas discussões acaloradas, pois de um lado estão o respeito as questões das diferenças linguísticas, a identidade surda, e os modos próprios de relação cultural que as pessoas com surdez tem, do outro lado, a preocupação com a inclusão dessas pessoas na comunidade majoritária, respeitando suas diferenças e necessidades, mas atentando para que não se constitua como uma comunidade à parte marginalizada. Este debate acaba se materializando na defesa, de um lado, de escolas de surdos e, do outro, pela inserção do aluno surdo na escola de todos. A tarefa é criar espaços educacionais onde a diferença esteja presente, onde se possa aprender com o outro.
Devido as dificuldades acarretadas pelas questões de linguagens, observa-se que nos dias atuais, grande parte dos professores e das escolas não estão preparadas. Souza e Góes(1999) afirmam que o processo de inclusão do aluno surdo vem sendo acompanhado por professores e profissionais que desconhecem a língua de sinais e as condições bilíngues do surdo, razão pela qual os professores tendem a considerarem-se desprezados para atuar com esse público.
Conhecer o desenvolvimento da linguagem e compreender as condições que se impõem ao processo de aquisição de uma segunda língua, devem ser os pontos de partida para qualquer profissional que objetiva trabalhar com o ensino da LP para surdos. Considerando uma proposta bilíngue, a libras deve ser a L1(primeira língua), ou seja, língua materna da pessoa surda brasileira e a LP deve ser sua L2. De acordo com Quadros(1997:67), " as razões dessa afirmação estão relacionados com o processo de aquisição dessas línguas, considerando a condição física das pessoas surdas."
Percebe-se que o fracasso escolar do aluno surdo, está na forma de como é conduzida a aprendizagem da leitura e da escrita da LP, considerando-se a prática pedagógica pro inúmeras vezes, inadequada. Segundo Poersh(1995), "os métodos, as técnicas e o discurso do ensino de uma segunda língua. devem adaptar-se o mais possível, as diferenças individuais, regionais ou grupais dos aprendizes." É fundamental que se entenda que promover uma abordagem educacional bilíngue envolve considerar não somente a necessidade de duas línguas, mas dar espaço privilegiado e prioritário a língua natural dos surdos, bem como considerar a identidade e a cultura surda eixo fundamental.
Silva(1998,p.58), define identidade cultural:
... a identidade cultural ou social é o conjunto dessas características, pelas quais os grupos sociais se definem como grupos: aquilo que eles são, entretanto é inseparável daquilo que eles não são, daquelas características que os fazem diferentes de outros grupos.
Nesse sentido, a abordagem bilíngue envolve uma reestruturação na maneira de encarar a língua e a cultura surda, e esta reestruturação afetará a visão do processo educacional, a postura dos professores ouvintes frente ao aluno surdo, a redefinição dos objetivos e as estratégias, ou seja, os surdos tem direito a uma educação plena e significativa. Para Skliar(1988), esta abordagem envolve aspectos relativos a identidade do surdo com eixo fundamental à criação de condições linguísticas e educacionais apropriadas para o desenvolvimento bilíngue, a utilização de temas culturais, à promoção do uso da primeira língua em todos os níveis escolares.
A leitura deve ser uma das principais preocupações no ensino de LP para surdos, devido as varias funções que ela cumpre, que vão desde a de divertir, em que o procedimento é mais espontâneo, até aqueles que exigem do leitor processos mentais mais elaborados e nas quais o conhecimento prévio se faz necessário. .
O trabalho do AEE Ps, segundo Damázio(2005:69-123), envolve três momentos didáticos- pedagógicos, que são:
- AEE em libras
- AEE para o ensino da língua portuguesa
- AEE para ensino de libras
Momento do atendimento educacional especializado para o ensino de libras na escola comum, no qual os alunos com surdez terão aulas de libras, favorecendo o conhecimento e a aquisição, principalmente de termos científicos. Este trabalho é realizado pelo professor e/ou instrutor de libras(preferencialmente surdo), de acordo com o estágio de desenvolvimento da língua de sinais em que aluno se encontra. O atendimento deve ser planejado a partir do diagnostico do conhecimento que o aluno tem a respeito da língua de sinais.
Momento do atendimento educacional especializado para o ensino da língua portuguesa, no qual são trabalhadas as especificidades dessa língua para pessoas com surdez. Este trabalho é realizado todos os dias para o aluno com surdez, à parte das aulas da turma comum, por uma professora de língua portuguesa, graduada nesta área, preferencialmente. O atendimento deve ser planejado a partir do diagnóstico do conhecimento que o aluno tem a respeito da língua portuguesa.
Uma vez que, somente a Libras não é suficiente para resolver todos os problemas escolares desses alunos, fica confirmado aquilo que expressa o Decreto 5.626 de 5 de Dezembro de 2005; deve-se por em prática o ensino da Língua Brasileira de Sinais e da Língua Portuguesa, de modo simultâneo no ambiente escolar.
Referências Bibliográficas:
Coletânea UFC – MEC/ 2010: A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar. Fascículo 05: Educação Escolar de Pessoas com surdez – Atendimento Educacional Especializado em Construção, p. 46-57.
DAMÁZIO, M. F., ALVES, Carla B. E FERREIRA, Josimário de P. Educação Escolar de Pessoas com surdez In AEE: Fascículo 04: Abordagem Bilíngue na escolarização de pessoas com surdez. Fortaleza: UFC; 2010. p. 07-09.
DAMÁZIO, Mirlene F.M.- Educação Escolar Inclusiva das Pessoas com Surdez na Escola Comum: Questões Polêmicas e Avanços Contemporâneos. In: II Seminário Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, 2005, Brasília. Anais...Brasília: MEC, SEESP, 2005. p. 108-121.
Nenhum comentário:
Postar um comentário